Divagações,  Doces

Pudim de pão – brincando com os termos culinários

Pudim de pão em duas versões
Para a brincadeira ficar fácil, fui buscar uma revista antiga, herdada de uma tia lá pelos anos 70, intitulada “Sendas em nosso lar”.
Todas as receitas foram elaboradas por Maria Thereza Weiss, falecida em 2008. Ela foi a primeira brasileira a escrever sobre culinária.

Pudim de pão (versão cidadão comum)

5 pãezinhos amanhecidos
1/2 litro de leite
200 g de uvas-passas (opcional)
100 g de manteiga
2 colheres (sopa) de queijo parmesão
1 pitada de cravo-da-índia
1 colher (chá) de canela em pó
1 cálice de vinho do Porto (opcional)
5 ovos
Açúcar a gosto (usei 1 xícara de chá)

Preparo

Ponhas as passas de molho por algumas horas. Corte o pão em fatias, ponha numa tigela e molhe com o leite fervente. Deixe esfriar um pouco. Bata no liquidificador, junto com os ovos, o queijo, a manteiga derretida, o cravo e a canela.
Volte o conteúdo para a tigela, adicione as passas e o açúcar a gosto.
Despeje em forma untada e polvilhada com canela ou caramelizada. Asse a 180°, em banho-maria.
Obs.: Para o caramelo usei 1 xícara(chá) de água e 1/2 xícara (chá) de açúcar. Fiz a calda no micro-ondas, 14 minutos na potência máxima. Depois de fria, coloquei a massa do pudim e levei novamente ao micro-ondas por 10 minutos na potência máxima. Prático e rápido.

Bread pudding (versão Chef)

5 brioches ou fatias de panetone ou colomba (*1)
249 ml de leite (*2)
249 g de natas frescas
200 g de passas chilenas
2 tbsp de parmigiano (*3)
1 pitada de Calyptranthes aromática (*4)
1 tsp de cinamomo em pó (*5)
1 cálice de Tawny 30 anos (*6)
250 g de ovos caipiras (*7)
Açúcar refinado amorfo a gosto (*8)
3 g de açúcar vanille (*9)

Preparo

Num bowl, deixe as sultanas (isso mesmo, as passas…) embebidas no Tawny por algumas horas. Fatie os pães, vertendo sobre eles o leite com as natas ferventes. Deixe perder temperatura e, com um termômetro culinário, verifique se atingiu 50°. Com um mixer, agregue os ingredientes. Una os ovos (não precisa montar as claras separadamente), a manteiga derretida, a calyptranthes e o cinamomo.
Verta o conteúdo para o bowl, some as sultanas, o açúcar refinado e o vanille.
Faça uma calda a 108°, colocando 1/3 no fundo, espalhando os 2/3 nas laterais…
Chega, nem vocês devem estar aguentando ler tudo isso!

Decifrando

*1 – você não acha que Chef faz pudim de pão francês de padaria, acha? No mínimo brioche…
*2 – a metade do leite foi substituída por natas frescas, nem um grama a mais ou a menos. Use balança de precisão.
*3 – coisa mais vulgar escrever “colher de sopa…”
*4 – também chamado de cravo-da-terra, cujas flores e botões são utilizados como substitutos do cravo-da-índia. Não pense que é produto importado, é original da mata atlântica, Rio e Minas Gerais.
*5 – colher de chá, nem pensar!
*6 – tipo de vinho do Porto, que, de acordo com a idade, vai passando da cor vermelha inicial para acastanhada, dourada e âmbar.
*7 – orgânicos, sem hormônio, naturalmente.
*8 – açúcar comum
*9 – açúcar de baunilha

Você pode escolher uma versão ou outra, mas o resultado será o mesmo, o velho e tradicional pudim de pão, que agrada à maioria.
Falando sério, que Chef ensinaria a fazer pudim de pão, se uma panna cotta, por exemplo, é bem mais “moderna”?
A intenção desse post é brincar com os termos culinários.
Costumo usar termos estrangeiros quando não existe versão adequada ou quando a tradução se tornaria uma extensa definição. Ou, ainda, quando é um prato tipico de determinado país que está sendo abordado. Cada blogueiro (food blogger…rs!) deve dar ao seu blog o seu jeito, certo?

Dados:
Wikipédia
E-jardim

Flor da fruta-pão

Flor da fruta-pão

Foto: Maria de Lourdes Ruiz

A Artocarpus altilis é também conhecida como árvore do pão, fruteira-pão, entre outras. É natural da Indonésia e Nova Guiné.

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34 Comentários

  • Marcel Gussoni

    Oi Gina! Muito bacana esse post, e o pudim parece delicioso!
    Fico aqui pensando quantas pessoas desistiriam de tentar sua receita se você só publicasse a 2º opção. É isso que tantos chefs/cozinheiros/revistas fazem quando insistem em nomenclaturas desnecessárias.
    Bjs
    Marcel

    • Gina

      Às vezes utilizam nomes gigantescos no cardápio, palavras sofisticadas para pratos simples. Vendo um filme, cujo nome não me recordo, há uma frase interessante, que dizia que reconhece-se um chef pela capacidade de preparar pratos simples com maestria.
      Essa 2ª opção chega a ser desagradável de ler, não é mesmo?
      Às vezes você precisa perguntar ao garçom do que se trata o prato, por conta da nomenclatura utilizada.
      Um abraço.

  • Gina

    Marly, minha querida, não senti nenhuma falta de tato da sua parte. Nem precisava se desculpar.Não posso precisar nada sobre a vida dessa ou daquela autora, apenas me baseio nas fontes consultadas.Fiquei tão curiosa com a Dolores Botafogo, que escrevi carta pra minha mãe perguntando o que ela conhece, já que minha mãe foi confeiteira por 40 anos.Uma pena não termos memória de fato para valorizar pessoas que se destacam.Grata pela “tréplica”…rs! Tornar o blog um forum de debates é interessante. Haja tempo para tal, não é?Amei!

  • Marly

    Oi, Gina,A minha vida de blogueira é uma batalha contra o tempo. Na verdade, eu não disponho de tempo para manter um blog, tampouco para fazer as visitas. Mas, como a gente vive no ‘rebolation’, rsrs, a coisa acaba saindo. Todavia, às vezes sai toscamente, como o meu comentário acima. É que, na pressa, a gente fala o essencial, o que acaba parecendo falta de cortesia. Eu coloquei a minha dúvida porque sinto assim, certa pressão, por parte da família da Sra. mencionada no post, para fazer dela uma pioneira no assunto.Nada contra isso, ela de fato não deixa de sê-lo. E o trabalho dela também é bom. Mas acho que é tempo de nos tornarmos uma sociedade dotada de memória e respeito pelo trabalho dos outros, afinal, é isso que faz de um país uma grande potência, não é verdade? O sucesso de muitos é melhor que o de um só (é o que eu penso). Gostei de saber mais sobre a Dolores Botafogo. O livro dela, apesar de ter fotos bem ultrapassadas, tem muitas receitas atuais, como os gratinados e outras tantas.Um beijão e desculpe a minha falta de tato.

  • Gina

    Elizabete, que bacana você fazer meus biscoitos de nata. Já fui conferir seu post e fiquei com vontade ter as natas frescas, como você tem acesso. Grata por acompanhar minhas histórias.Marly, meu marido e eu gostamos muito desse pudim. Só ficou com pouca calda, mas ajudou a reduzir o açúcar também.Achei bastante pertinente e instigante seu comentário sobre o pioneirismo de Maria Thereza Weiss. Isso aguçou minha curiosidade e fui pesquisar.Descobri o livro Biblioteca de Arte culinária, de Dolores Botafogo, de 1954. Mas o pioneirismo de Maria Thereza está no fato de que ela tinha coluna de culinária em jornais desde 1952 (Shopping News-jornal de bairro, O Globo e O Dia),embora o primeiro livro só tenha saído em 1961.Quanto ao estrangeirismo na culinária, nossas opiniões são semelhantes.Grata por ter me motivado à pesquisa, adoro isso!Flora, entendo e respeito seu ponto-de-vista, mas se torna muito difícil fugir do uso dos termos estrangeiros. Como substituir fondue, madeleine, cupcake ou cookie ?Acho que a maior cisma é mesmo com os termos em inglês. Pizza, por ex., é uma palavra italiana, que ninguém ousa substituir por “massa levedada, a qual se adiciona molho, queijo, entre outros ingredientes”. No entanto, não tem tradução.Mas concordo que há exagero em alguns casos, como frogurt (sorvete com iogurte).Você não é chatinha, apenas expressou sua opinião e é pertinente.Beijos a todas!

  • Flora Maria

    Acho muito importante essa diferença de termos. Já imaginou se fosse tudo igual sempre ?O que me incomoda um pouco são os “modismos exagerados”, quando, por exemplo, somos OBRIGADOS a usar o termo da moda para sermos entendidos, quando um termo começa a ser usado à exaustão, como uma forma de impor sua força, e aí todo mundo tem que falar daquela maneira.Sou muito chatinha mesmo…Coisas de senhora sexagenária.Beijo

  • Marly

    Oi, Gina,O seu pudim ficou com um aspecto bem tentador! O meu pudim de pão é parecido com esse, pois leva passas e especiarias (mas não costumo usar o vinho do Porto, embora ele melhore o sabor de tudo, rsrs).Esse negócio de usar termos estrangeiros nas receitas/textos dos blogs é complexo. Em muitos casos o termo fica deslocado e “soa” como esnobismo tolo (como é o caso de ‘bow’ no lugar de tigela, segundo o meu ponto de vista). Em outros casos os termos são quase insubstituíveis, como, por exemplo, ‘muffins’ e ‘cupcakes’. A verdade é que, ao longo da história, os países mais fortes têm imposto a sua língua aos mais fracos.Quanto à Mª Tereza Weiss, eu agora já fico em dúvida quanto ao pioneirismo dela como escritora de livros de culinária. Isso porque eu comprei – não faz muito tempo -um livro de uma senhora chamada Dolores Botafogo, que foi publicado em 1958. Só que esse é o 2º livro dessa mulher, o primeiro eu nem sei quando foi publicado. Enfim, tenho me surpreendido com os ‘achados’ culinários que a gente encontra por aí.Beijão.

  • Elizabete

    Bom dia! Fiz sua receita de biscoito de nata e coloquei no meu blog, APRESSADOS. Gostei da receita de pudim de pão estava precisando desta receita mesmo. Eu gosto de ler suas histórias. Bjos e bom fim de semana!

  • Gina

    Rute, tem gente que é adepta do “se podemos complicar, para que facilitar?”Reconheço que é difícil fugir do estrangeirismo. Já pensou “bolo de xícara”, no lugar de cupcake? Conhecia a fruta-pão, mas só agora fui apresentada à sua flor.Cláudia, é perfeitamente compreensível o uso das palavras estrangeiras da forma como você o faz. Inclusive, costuma mostrar fotos dos produtos, dá dicas de substituições. Isso é muuito importante.Fabiana, até hoje só fiz a versão cidadão comum, mas acho que com qualquer uma das opções apresentadas, deve ficar muito bom também.Nana, você tocou num ponto interessante. Quando se procura receitas na net, é pra fazer logo, de preferência com ingredientes disponíveis em casa. Claro que há ocasiões especiais, que merece algo mais sofisticado. Nesse caso, foi pura brincadeira, mas em tudo existem os dois lados da moeda, não?Welse, que bom! É esse o espírito do blog. Aprendemos uns com os outros todos os dias.Flavinha, no Natal, quando os panetones estão em excesso nas mesas ou na Páscoa com a colomba, acho muito válido experimentar esse excedente para fazer pudim (ou bread pudding). Por que não?Tânia, fico só com a imaginação, nem quero saber o valor do Tawny…rs! Menina, medidas em pires e pratos eram complicadas, mas até que essa, apesar de antiga, já estava mais adequada.Cris, a Páscoa está chegando e até agora nada!Beijos a todas!

  • Cris

    Oi Gina querida!!Humm este pudim de pão está dilicioso hein…Em falando em páscoa veja se anima minha amiga, você tem tantas idéias boas e sempre com bom gosto, capaz que está desanimada!!! Vamos lá!!!bjs amiga! amei te encontrar no blog!

  • Tânia

    Fico imaginando colocar um cálice (por menor que seja a quantidade!) de Tawny 30 anos numa receita!!! É de doer o coração e o bolso..:DAdorei os termos….mas nos antigamente mais simples as medidas eram pires, prato….Vou fazer sua receita com colomba, depois te conto!Beijão

  • Flavinha

    Hehehe… Adorei a versão com brioches ou panetone!Mas o que eu queria mesmo era um pedaço desse pudim de pão, ou melhor, bread pudding agora mesmo!Beijinhos

  • welze

    adorei. vc sempre me deixando muito feliz alegre e mais sábia. a receita do pudim de pão, a primeira, é a verdadeira, o que veio mais tarde, com leite condensado por exemplo, é outra coisa. Para meu paladar, essa é a melhor. me lembra a casa da minha mãe. adorei como sempre estar aqui.

  • Nana

    éééééé amiga, pq eles não são xisque como nós. A diferença nessa brincadeira toda que a maioria deve ter percebido que existe dois tipos de mercado, o mercado gourmet e o mercado dona de casa. Claro que a dona de casa pode ser gourmet, quem falou que não?Mas dona de casa não gosta de frescurite, nunca gostou, quer algo rápido e que ela entenda.Tu vê as revistas que são vendidas, as donas de casa tem um leque de revistas por 1,99 e os gourmets gastam dinheiro com revistas que custam 40 reais, por causa desses termos que no final da conta é tudo a mesmaaaaaaaaa coisa. Claro que os produtos são diferentes, outro lado da moeda do marketing, mas ninguém falou que o velho sangue de boi é bom também para a culinária. ééééé amiga, isso é a vida, eu prefiro simplificar e trazer o hábito e a cultura da gastronomia na cozinha de cada leitor, tenho dito. Passa no Manga amiga:)

  • Magia na Cozinha

    Eu nunca comi Pudim de Pão, mas já vi a receita várias vezes. Parece delicioso!Como escrevo o blog em Português, tento usar termos em Português, na medida do possível.Bjs 🙂

  • RUTE

    Que engraçada a comparação.
    Os estrangeirismos invadiram nossa cozinha.
    Adorei os *.
    Pudim de pão é bom demais 🙂
    E como sempre…terminou em beleza com flôr fruta-pão 🙂

  • Gina

    Ana, na verdade, nesse pudim nem coloquei as passas, porque preferimos assim.
    TPara o pudim, tanto faz as passas pretas ou brancas, mas as sultanas são as brancas sim.
    Emília, se há um alimento que não vai para o lixo em hipótese alguma é o pão. Faz-se pudim ou farinha de rosca, certo?
    Ana e Bela, se vocês nunca comeram, sugiro que experimentem.
    Fla e Richie, o importante é comer o pudim, certo…rsrs?
    Tati, essas diferenças de linguagem entre os termos portugueses e brasileiros já foi motivo de um outro post. Agora já me acostumei, mas já tive muitas dúvidas.
    Fabiana, tenho receitas bem antigas mesmo, mas que estão sempre na memória afetiva.
    Fimère, vale a pena experimentar.
    Rosélia, ultimamente tenho feito vários pratos que nos remetem à infância, né?
    Alcina, de vez em quando é bom brincar um pouco com os preciosismos. Sabe que admiro quem faz tudo no "olhômetro", sem se ater tanto à precisão? Não é o meu caso…
    Paula, é engraçada a questão do modismo. Há uns 20 ou 30 anos já se falavam nos muffins, mas cupcakes não, por ex.
    Helô, fui lá conferir sua receita, é muito parecida mesmo!
    Beijos a todos!

  • Paula Pacheco

    Oi Gina, adoro um pudim de pão, e nunca fiz, meu cunhado faz um que é de matar, esse com vinho deve realçar bem o pudim.
    Esses termos com certeza são hábitos novos, trabalhei em uma empresa americana que ficava indignada com tantos termos que tinhamos que assimilar e usar, pois todos acabavam falando e ia ficando normal sabe, o duro é quando eu falava com alguem fora da empresa com esses termos, a pessoa ficava sem saber direito o que eu falava…então, termos novos eu acho bacana, mas quando necessário. Já usei bowl no inicio do blog, depois voltei ao normal kkkk
    bjs querida
    Paula

  • Alcina

    Também acho engraçados esses termos e estrangeirismos 🙂
    Os preciosismos nas medidas são o máximo, mas a verdade é que estive na casa de uma amiga no fim de semana passado e ela estava a tentar pesar 234 gramas numa balança que só pesa de 20 em 20 hehe
    Gosto de pudim de pão mas nunca fiz.
    bjs

  • orvalho do ceu

    Oi,Gina
    Hoje vc homenageou duas importantes pessoas para mim e de nossa família: pai e vovó Celina…
    Um, pelo pudim de pão… outra, pela fruta pão…
    Gosto demais dos dois pelo valor afetivo que me tem ao coração.
    Bom apetite, com este pudim tentador!
    Bjs

  • Figos & Funghis

    Oi Gina, que bacana! Você tem revistas bem antigas né? Eu também herdei muitas da minha avó, que ainda é viva e forte, mas já desistiu da cozinha há tempos.
    O pudim ficou maravilhoso!
    Bjinhos

  • Eu Mulher

    Dizem que é um ótimo pudim, nunca experimentei.

    É com sultanas mesmo ou com uvas passas comum? Sultanas não são as passas branquinhas?

    Bjs

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